sexta-feira, 16 de maio de 2014
o Tédio e a Vida Moderna
Sempre que você sente tédio, sente-se também inquieto. A inquietação é uma indicação do corpo; ele está dizendo: “Afaste-se daqui, vá para outro lugar, não fique aqui”.
A mente é civilizada, o corpo ainda é selvagem. A mente é humana, o corpo ainda é animal. A mente é falsa, o corpo é sincero. A mente sabe as regras e os regulamentos – como se comportar de modo apropriado – e, por isso, mesmo que você encontre com um chato, você diz: “Estou tão feliz por te encontrar!” Mas no fundo, se pudesse, você teria virado as costas.
O tédio é um fenômeno muito significativo. Só o homem sente tédio, nenhum outro animal. Só o homem se entedia, porque ele é consciente. A consciência é a causa. Quanto mais sensível você for, mais alerta estará; quanto mais consciente for, mas entediado ficará.
Quanto mais alerta e mais renovado você se torna, mais sente quando uma situação é apenas uma repetição, apenas uma coisa banal.
E sua vida é uma repetição. Todas as manhãs, você se levanta quase da mesma maneira que tem se levantado a vida toda. Toma o café da manhã quase do mesmo modo. Vai trabalhar – o mesmo escritório, as mesmas pessoas, o mesmo trabalho. Depois volta para casa – o mesmo parceiro ou parceira. É natural se entediar. É muito difícil ver qualquer novidade nisso – tudo parece velho e coberto de poeira.
O relacionamento também se tornou uma repetição contínua. Você faz amor, abraça e beija o parceiro ou parceira, mas agora esses são gestos vazios. O encanto desapareceu há muito tempo. Assim as pessoas vão fingindo, mas por trás desse fingimento, acumula-se um grande tédio.
Observe as pessoas andando nas ruas... Estão morrendo de tédio. Veja os rostos delas – não há aura de prazer. Veja os olhos – não há brilho de felicidade.
Elas vão do trabalho para casa, da casa para o trabalho, e aos poucos a vida inteira se torna uma rotina mecânica, uma constante repetição. E um dia elas morrem... Quase sempre as pessoas morrem sem jamais ter vivido.
Nesse momento, olhe para dentro e perceba... Em quantos momentos de sua vida você esteve cheio de brilho, cheio de esplendor? Você se lembra? Esses momentos são raros. Você pode até sonhar com esses momentos, imaginar tais momentos, esperar por eles – mas eles nunca acontecem.
O tédio é a consciência da repetição. Como os animais não se lembram do passado, não sentem tédio. O búfalo continua comendo a mesma grama todos os dias, com o mesmo prazer. Você não consegue fazer isso.
É por isso que as pessoas tentam mudar. Mudam de casa, compram um carro novo, divorciam-se e começam um novo caso de amor, mas a coisa sempre se tornará repetitiva, mais cedo ou mais tarde.
Mudar de lugar, de pessoa, de parceiro, de casa não serve para nada, pois mais cedo ou mais tarde percebem que isso é bobagem, pois a mesma coisa vai acontecer com cada mulher, com cada homem, cada casa, cada carro.
O que fazer, então? Torne-se mais consciente. Não é uma questão de mudar as situações – transforme seu ser, torne-se mais consciente. Se você se tornar mais consciente, será capaz de ver que cada momento é novo.
Ou seja, você não tem consciência – e assim não sente a repetição – ou tem tanta que, a cada repetição, consegue ver algo novo. Esses são os dois modos de sair do tédio.
Osho
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