Páginas

quinta-feira, 12 de junho de 2014

As Nuvens Que Vagueiam Pelo Céu Não Têm Raízes nem Lar




E o mesmo é verdadeiro em relação a teus pensamentos, e o mesmo é verdadeiro em relação a teu céu interior: teus pensamentos não têm raizes, não têm lar; tal como as nuvens, eles vagueiam. Assim não precisas combatê-los, nem sequer precisas tentar detê-los.
Isso deve tornar-se um profundo conhecimento em ti, porque sempre que uma pessoa se torna interessada em meditação, começa por tentar deter o pensamento. E, se tentares deter o pensamento, ele jamais se deterá, porque o próprio esforço para detê-lo é um pensamento, o próprio esforço para meditar é um pensamento, o próprio esforço para atingir o estado de Buda é um pensamento. E como podes deter um pensamento com outro pensamento? Como podes deter a mente criando outra mente? Estarás agarrando-te à outra. E isso continuará, e continuará, até à náusea, e não terá fim.
Não lutes, porque quem lutará? Quem és tu? Apenas um pensamento; portanto não te faças o campo de batalha de uma luta de pensamentos. Sê, antes, uma testemunha, observa apenas a flutuação dos pensamentos. Eles cessarão, mas não porque tu os tenha detido. Cessarão porque tornaste mais perceptivo, e não por qualquer esforço de tua parte; não, dessa forma eles jamais cessam, eles resistem. Tenta, e descobrirás: tenta deter um pensamento e o pensamento persistirá. Os pensamentos são obstinados, irredutíveis. Tu os repeles e eles retornam um milhão de vezes. Tu se cansarás, não eles.
Aconteceu que certo homem foi ter com Tilopa. Esse homem desejava obter o estado de Buda e ouvira dizer que Tilopa o atingira. Tilopa estava estagiando num templo, algures, no Tibet. Quando o homem chegou, Tilopa estava sentado e o visitante disse: - "Eu gostaria de deter meus pensamentos".
Tilopa respondeu: - "Isso é muito fácil. Eu te ensinarei um plano, uma técnica. Faze exatamente o que digo: senta-te e não penses em macacos. Isso bastará".
O homem disse: - "É assim tão fácil? Basta não pensar em macacos? Mas nunca andei pensando neles..."
Tilopa disse: - "Faze o que disse e, amanhã pela manhã, vem contar o que se passou".

Bem podes compreender o que se passou com o pobre homem: macacos, macacos e macacos, em torno dele. Á noite não pode dormir, nem mesmo cochilar. Abria os olhos e ali estavam eles. Fechava os olhos e ali estavam eles, e fazendo caretas. O homem estava simplesmente estupefato: Ora essa, por que aquele homem lhe havia ensinado aquela técnica? Como poderiam os macacos ser o problema, se nunca tinha pensado neles! Isso estava acontecendo pela primeira vez! Mas tentou e, pela manhã, ainda tentou. Tomou um banho e sentou-se, sem nada fazer: os macacos não o largavam.
Voltou à noite, quase louco, porque os macacos o estavam seguindo e ele estava falando com os macacos. Chegou e disse: - "Dá um jeito em me salvar disto. Não quero saber dessa história. Eu estava muito bem, não quero saber de nenhuma meditação. Não quero saber da tua Iluminação - livra-me desses macacos!"
Se pensares em macacos, pode ser que eles não venham ter contigo. Mas, se quiseres que eles não venham, eles te seguirão. Eles têm seus egos e não poderão deixar-te tão facilmente.
O mesmo acontece com as pessoas. Tilopa estava gracejando, dizendo que, se tentas deter um pensamento, não o podes deter. Pelo contrário, o próprio esforço para detê-los dá-lhe energia, o próprio esforço para evitá-lo torna-se atenção. Assim, sempre que queres evitar algo dás demasiada atenção a esse algo. Se não quiseres pensar um pensamento, já estarás pensando nele.
Lembra-te disso; quando não, estarás no mesmo apuro em que se viu o pobre homem, que ficou obcecado pelos macacos, por ter desejado detê-los. Não há necessidade de deter a mente. Os pensamentos não têm raízes, são vagabundos sem lar; não precisas preocupar-te com eles. Observa, simplesmente observa, sem olhar para eles; simplesmente observa.
Se os pensamentos vêm, não te sintas mal por isso; se tiveres a mais leve impressão de que eles não são bons, já começarás a combater. É certo e natural: assim como as folhas chegam para as árvores, os pensamentos chegam para a mente. Isso está certo, é exatamente o que deveria ser. Se eles não surgem, é belo. Conserva-te, simplesmente, como imparcial observador, nem a favor, nem contra, não apreciando nem condenando, sem qualquer avaliação. Conserva-te, simplesmente, dentro de ti mesmo, e olha, olha sem olhar.
E, quanto mais olhares, menos encontrarás; quanto mais profundamente olhares, maior número de pensamentos desaparecerão, dispersar-se-ão. Desde que saibas disso, tens a chave em tua mão. E essa chave revela o mistério mais secreto: o mistério do estado de Buda.
E, desde que possas ver que os pensamentos são flutuantes, que não és os pensamentos, mas o espaço nos quais eles flutuam, terás atingido tua mente-eu, terás compreendido o fenômeno da tua percepção. Então, a discriminação cessará: então, nada será bom, nada será mau; qualquer desejo simplesmente desaparecerá, porque não haverá nada bom, nada mau, nada a ser desejado, nada a ser evitado.
Tu aceitas e te tornas desprendido e natural. Tu, simplesmente, começa a flutuar com a existência, sem ir a parte alguma, porque não há meta; não te moves em direção de alvo algum, porque não há alvo. Começas a gozar cada momento, seja o que for que ele traga - seja o que for, lembra-te. E podes gozá-lo, porque agora não tens desejos nem expectativas. Nadas pedes; portanto és grato ao que quer que recebas. Só o estar sentado e respirar é tão belo.
Quando Buda alcançou o Definitivo, a perfeitamente Definitiva Iluminação, perguntaram-lhe: - Que conquistas-te? - Ele riu e disse: - "Nada, porque o que quer que eu tenha conquistado já estava dentro de mim. Não atingi nada de novo. Isso sempre esteve em mim, desde a eternidade, é a minha verdadeira natureza. Eu, porém, não tinha noção disso, não tinha consciência disso. O tesouro sempre esteve ali, mas eu o havia esquecido."
Tantra: A Suprema Compreensão - Bhagwan Shree Rajneesh
Postado por Paulo Roberto Eyer

Nenhum comentário:

Postar um comentário