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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Velhice Consciente...Desencarnação Serena



A velhice  mais ou menos consciente vai depender em grande parte da perspectiva que se tenha diante da morte. E é na visão da morte, com todas suas consequências filosóficas e morais, que o Espiritismo realizou uma revolução irreversível, que o mundo ainda não reconheceu. É que a verdade deve vencer muitos preconceitos e muitos interesses antes de conquistar a realidade humana. Mas sua marcha é inexorável. O que é verdade está nas leis da natureza e mais dia menos dia todos a reconhecerão como tal. Aqueles que já a conhecem devem trabalhar pela sua propagação.
        A Doutrina Espírita arrancou o véu que nos ocultava o outro lado e, pela mediunidade, mostrou a vida ativa, plena, imortal. A vestimenta do corpo passa. Volta ao pó da terra. Mas,como já pregavam todas as religiões, a alma se desprende e sobrevive e vai encontrar as consequências dos seus atos. Se não fosse assim - como pensam materialistas e niilistas - nada teria sentido e a moral seria uma farsa e a felicidade se reduziria realmente aos efêmeros gozos dos sentidos.
        O Espiritismo veio provar a imortalidade, com fatos mediúnicos - que se observados e estudados com discernimento e reflexão dão a evidência insofismável da sobrevivência do Espírito - mas veio também descrever minúcias dessa vida espiritual. E ainda se debruça sobre o momento da transição, captando o que acontece nos derradeiros minutos da vida terrena e no despertar da vida espiritual. Inumeráveis descrições e testemunhos, recebidos por médiuns do mundo inteiro, desde o tempo de Kardec até hoje, oferecem fartíssimo material para estudo. Em nosso século, até correntes não-espíritas fornecem tais testemunhos.
        Ora, o que fica evidente  é que não existe uma morte igual a outra, porque cada consciência é um universo. A vida continua para todos. Mas o estado de cada um no momento do desprendimento e as condições experimentadas no Além variam ao infinito. A lei geral é que a morte não faz milagres. Continuamos a ser o que somos. Carregamos conosco desejos e aspirações, vícios e desajustes, condicionamentos e virtudes.
        Mas existe sempre um componente moral no fenômeno de vida e morte: quanto mais virtudes e maior cultivo de espiritualidade legítima, mais paz, mais felicidade, mais luz. Quanto maiores os vícios, o egoísmo e o apego à Terra, mais sofrimento, mais desiquilibrio e mais trevas. Sabemos, porém, que todas as virtudes e todos os vícios terão redenção, porque o progresso, embora possa ser retardado pela vontade de cada consciência, é quase uma fatalidade no Universo. As sucessivas reencarnações proporcionam sempre novas oportunidades. 
        Assim como já sabemos da importância da Educação na infância para o aproveitamento da presente encarnação, também a velhice tem um importante papel para a transformação da morte. O declínio das forças físicas e até as doenças devem justamente proporcionar ao ser encarnado e desprendimento gradual, devem avisá-lo para se fixar em outros valores que não apenas os valores efêmeros do mundo físico.
        Sabe-se que as pessoas muito apegadas à matéria, que cultivaram demasiadamente o corpo físico, têm maiores dificuldades de o abandonarem, quando chega a hora. Sua situação espiritual depois da morte também pode ser problemática, se ainda se prendem com demasiada insistência na satisfação das necessidades físicas. Quem está familiarizado com a literatura espírita ou participa de sessões de desobsessão sabe quantos vivos do Além permanecem no meio dos vivos da Terra, para vampirizar sensações e energias que já não podem ter como Espíritos. O egoísmo, a mania de lamentação e a excessiva fixação mental em si mesmo, a ociosidade, o orgulho e todo o cortejo de defeitos humanos são outros tantos fatores de loucura e desespero no mundo espiritual. Não devemos nos esquecer, porém, que a qualquer momento, aqui ou no Além, o Espírito pode mudar o rumo do seu destino, arrependendo-se de seus erros e esforçando-se para progredir.
        Assim, o Espiritismo se opõe terminantemente à eutanásia, pois até o último instante da vida no corpo, mesmo no estado de coma, o Espírito pode estar refletindo, fazendo um balanço de sua existência, adquirindo novas luzes e adaptando-se  à idéia da desencarnação e ao mundo espiritual. Enquanto o corpo sofre, não sabemos o que a alma está vivenciando e o quanto lhe será útil essa desencarnação lenta - ela pode muitas vezes não estar preparada para cortar abruptamente o fio da vida.
        Mas aquele que a morte surpreende nas condições descritas no início deste nosso estudo, as da velhice ideal, desprende-se com facilidade do corpo e logo se ajusta às novas condições de trabalho e evolução. Se compreendermos, aliás, que a vida prossegue sempre em atividade, luta e desenvolvimento, e que não existe repouso eterno e contemplação beatífica de um céu ocioso e entediante, fica mais evidente o fato de que a velhice também não deve ser pretexto para ociosidade. É claro que ninguém deve fazer nada acima de suas forças físicas e muito menos ser explorado por familiares e patrões. Mas em qualquer situação, cada um deve buscar ser útil na medida de suas possibilidades, pois a vida só se enche de sentido quando agimos em favor do bem comum.

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